domingo, 26 de dezembro de 2010

CONSELHOS

Todo dia é a mesma história. A mesma ladainha, a mesma lamentação. O mesmo surto de independência, de auto-suficiência, e até mesmo auto-estima. É quase uma conversa bipolar, que oscila em amor e ódio aos homens. As protagonistas são sempre as mesmas. Ora uma, ora outra. Cada uma com seu respectivo par, que alias muda com freqüência quase semanal. Se ainda fosse um protagonista a altura, um galã por semana, tudo bem. Mas os atores principais parecem não corresponder ao que as atrizes desse dramalhão mexicano merecem, ou pensam merecer.
Hoje aconteceu algo diferente. Elas sempre trocam os mesmos conselhos, quando recebem repudiam, mas na hora de dá-los, acreditam fielmente. Porque é tão mais fácil acreditar no conselho quando estamos dando e não quando estamos recebendo? Será que acreditamos mesmo no que dizemos para outra pessoa? Enfim, o que importa é que no fundo elas gostam de se enganar, e acabam seguindo seus impulsos, pois sabem que terão uma a outra pra chorar depois.
Mas hoje, especialmente, uma delas se calou. Não foi um silêncio de felicidade por ter encontrado um possível ator principal, até porque se fosse o caso haveria histeria, não silêncio. Hoje, ela percebeu que os testes para sua novela se encerraram, e infelizmente não pelo motivo descrito há uma frase atrás. Se encerraram, pois um conselho foi dito baixinho e ouvido pelo pior lugar do corpo de uma mulher. Agora, a boca cala e sufoca lágrimas. E só mesmo tendo uma a outra para dizer mentiras e fazer esquecer o que ouviu o coração.



Amigas são para isso. Para estar na mesma estrada, mesmo que seus caminhos sejam diferentes. Para dar conselho mesmo sabendo que jamais fariam nada daquilo. É pra dá bronca, fingindo ser responsável a ponto de poder dar sermão em alguém. E no fundo pode mesmo, pois afinal é pra isso que ela está ali. Amiga é pra ouvir a gente falar de um cara, mesmo sabendo que corre o risco de ser deixada meio de lado se tudo der certo. Amizade é ajudar mesmo sabendo que no fim podemos acabar nos afastando, mas nunca vamos deixar de estar ali, de mãos dadas.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

COM PIMENTA, POR FAVOR.


Sabe aquela música do Cazuza em que ele canta “eu quero a sorte de um amor tranqüilo com sabor de fruta mordida”? Teve uma época da minha vida em que eu achava que essa frase definia exatamente o que eu buscava. Mas hoje, percebo que eu não quero nada com sabor de fruta, ainda mais mordida. Na verdade eu nem quero mesmo um amor, e se eu quisesse, provavelmente, seria um inteiro sem mordida alguma.
Amor, pra mim, tem que ter sabor de pimenta. Ou algodão doce. Porque parece tão impossível misturar os dois? Realmente o gosto não deve ser dos melhores, mais é o que eu venho buscando. Eu quero o ardor da pimenta e o melado do algodão doce. Talvez um doce enjoado, daqueles que a gente só come um pedaço e guarda pra mais tarde.
Pensando bem, eu quero sim uma parte desse verso. Eu quero a sorte, a sorte de ter todo o amor que houver nessa vida e de viver todos os amores que a vida me der.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

TUDO OU NADA


     Já era tarde, como de costume seguiam a velha rotina. Foi então que em meio a papos banais aquele velho assunto apareceu. Não adiantava, sempre chegava uma hora que o sorriso derretia na face, como um boneco de cera. Se estivesse tudo bem parecia que faltava alguma coisa. O sono não seria o mesmo sem a discussão eterna de algo sem solução.

     Ela era cabeça, ele coração. Talvez ele fosse coração e cabeça, e por isso estava dando tudo errado. Pra ele era tudo ou nada. Pra ela o tudo não era o mesmo que o dele. Ela odiava ser a cabeça, na verdade ela não sabia como ser. Apesar do dejà vu, tudo era novidade ali, ou pelo menos parecia.

     Estranho como as pessoas tendem a afastar o que lhes faz bem por puro medo. Mais estranho ainda é ter consciência disso. Ao mesmo tempo que ela gostava de colorir, ela sentia vontade de rasgar o papel em pedacinhos. Ela era inconstante, e ele sabia disso. Na verdade era isso que ele amava nela, sua indecisão por tras de tanta determinação.

     Ele falava de sentimentos, e ela falava de momentos. Ela queria se deixar levar, enquanto ele queria uma trilha, uma direção. Os dois não concordavam em nada, mas se davam bem em tudo. Até as brigas eram estimulantes. Talvez o colorido esteja nos olhos de quem vê. O mundo era preto e branco para os dois, e inconscientemente, um coloria o mundo do outro.

     Por mais uma noite eles dormiram em silêncio, sabendo que se encontrariam nos sonhos. E nesse paralelo da realidade era quando estavam mais próximos, era aonde deixavam de ser um cara e uma garota e se tornavam borboleta e raio. E enquanto a borboleta bailava no céu, o raio era o holofote que iluminava um espetáculo particular.

DEJÀ VU

Estive pensando sobre muita coisa ultimamente, impressionante como problemas são uma bela dose de motivação para escrever. Esse texto não está nem perto de se tornar uma prosa poética ou algo pra tocar o coração de alguém. Esse texto tem a única função de libertar um coração sufocado, ou talvez desacostumado. Faz tempo que não me vejo com tantas idéias borbulhando na mente, acho que faltava uma dose de aventura para que as palavras pedissem para dançar, flutuar no papel.

Minha vida andava tão morna, e de onde eu menos esperava vinha o calor. Parece que estou num dejà vu eterno, onde aquela sensação de lembrança me persegue. Será que dois raios podem mesmo cair no mesmo lugar? Raios diferentes entre si, porém são raios, e isso basta.

Não sei se me encontro em uma tempestade, só sei que meus sentimentos combinam perfeitamente com qualquer analogia com a água. Sim, a água, que mesmo quando parece calma está em constante movimento. Será que só eu enxergo isso? A água, sem cor alguma, mas que qualquer gota de tinta colore tudo de uma vez só.

Eu estou cansada de tantas cores, mais de uma cor borra na água, e ao invés de um belo arco-íris se transforma em uma mistura sem graça. Dizem por aí que eu sou como uma borboleta, mas acredito que a metáfora não esteja bem empregada. Borboletas são livres, voam no céu azul e se escondem na chuva. Eu gosto de chuva, gosto de água, gosto do poder que ela tem, as borboletas com certeza não são como eu e vice-versa.

Torço para que não percebam que de borboleta eu não tenho nada, que não sou colorida, e sim sou uma cor de cada vez. Enquanto isso eu vou fingindo saber voar, até que me peguem atuando e o encanto se quebre. Desse dejà vu eu já sei o fim, só restará água em forma de lágrimas desbotando uma única cor.